Fazenda do Secretário

“Cavalgávamos nossas bestas. A bela monotonia da paisagem acabara por me entregar inteiramente às meditações interiores. Todo o percurso era uma fazenda… Conjecturava eu assim, sem grande inquietação intima, porém com a secreta desesperança dos que perderam a pátria, quando o meu animal, picando a marcha, pareceu pressentir as Tulherias. Era uma fazenda. O Secretário tendes a vista esta soberba habitação… O sol e Victor Frond já a pintaram, com sua rica cascata… seus outeiros longínquos carregados de cafeeiros… que um homem, um único homem construiu em vinte anos de trabalho. O Barão de Campo Belo, eis em pessoa o seu primeiro Montmorency.”

Essa é a narrativa de Charles Ribeyrolles, francês exilado no Brasil, ao se surpreender com a visita à distância da Fazenda do Secretário, vindo de Vassouras, em pleno apogeu cafeeiro, no ano de 1858. A lembrança das Tulherias, o palácio dos reis da França, veio da boa impressão que os jardins lhe causaram. Efetivamente, Secretário era a mais eloquente ilustração de fazenda do ciclo do café, em todos os sentidos: uma grande casa, um imenso cafezal, um respeitável barão.

Sobressai a arquitetura neoclássica da moradia, influenciada pela introdução do estilo no Brasil, justamente quando a construção do palacete estava prestes a acontecer. Excepcional no acabamento, os dois frontões triangulares nas extremidades da fachada sugerem a sua divisão em três corpos. O da direita, o da capela1. O da esquerda, abrigando a parte íntima da casa em cima e os serviços em baixo. E o do meio, nos dois pavimentos, os ricos salões ornados com pinturas decorativas ou com as paredes revestidas de papel. Fronteiro à casa, o grande relógio francês sobre a torre marca o passar do tempo até os dias de hoje… Secretário originou-se de uma sesmaria concedida, em 1743, a Pedro Saldanha e Albuquerque, logo transferida a Bartolomeu Machado Ferreira e Manuel Gomes Leal. Este último teria levantado a primeira casa de residência, ainda modesta e que daria lugar mais tarde ao palacete. Consta que o nome da fazenda se deve a um dos seus donos primitivos, que, por longo tempo, foi secretário do governador da capitania. Mas o grande senhor da Fazenda Secretário foi Laureano Correia e Castro2, agraciado com o título nobiliárquico de barão do Campo Belo. Foi ele quem mandou edificar a bela casa e os primorosos jardins, monumentos que resistiram ao tempo. Foi Campo Belo que cobriu de cafezais os extensos campos da fazenda, famosa pela fertilidade da terra e produtividade da lavoura, realizações que fizeram de Secretário a mais importante de Vassouras durante o ciclo.

Fazenda Aberta a visitação!

Fonte: Instituto Cidade Viva


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